domingo, 27 de janeiro de 2013

É hora da ciência tomar o poder político?

Você já imaginou viver sob um governo em que toda política, combate à criminalidade, promoção da saúde e educação, projetos de popularização da moradia própria – tudo – fosse embasado em evidências, e cada decisão fosse precedida de uma análise completa, apoiada em dados e em argumentos sólidos?

Políticas baseadas em evidências

A ideia de se criar políticas e programas de governo baseado em evidência científica não é nova. Por exemplo, já existem muitos programas de saúde pública que são orientados não pelo desejo dos políticos, mas pelo aconselhamento de acadêmicos, baseados em testes controlados.
Mas, para realizar qualquer política deste tipo, é necessário primeiro ter dados – e analisá-los. É o que pretende o teste controlado de programas de leitura que está sendo conduzido em escolas britânicas. A finalidade deste teste é analisar a efetividade de um programa antes de adotá-lo em todo o país.
O Ministério da Justiça britânico também planeja abrir seus bancos de dados para análise de acadêmicos, para acelerar seu uso potencial no planejamento de políticas.
A meta esperada é a adoção de políticas mais eficazes e resultados garantidos por análises rigorosas preliminares.

Desinteresse e resistência

Os planos e projetos que o governo britânico está tentando implementar enfrentam alguns problemas, decorrentes em parte de desinteresse ou até mesmo de resistência.
Quando foi anunciado o lançamento da “Administrative Data Taskforce” (“força-tarefa de dados administrativos”, em português), com intenção de examinar dados de todos os departamentos do governo e disponibilizá-los de forma que pudessem ser usados para políticas baseadas em evidência, o interesse da mídia foi mínimo.
Um dos objetivos da força-tarefa era encontrar formas de aumentar a confiança na segurança de dados. Porém, esbarrou em dificuldades como as diferentes permissões legais para trocar informações entre departamentos e a incompatibilidade dos dados de diferentes departamentos.
Além do problema de financiamento deste tipo de projeto, há também as reservas com que alguns deles são vistos. Por exemplo, quantos pais gostariam que seus filhos participassem de um projeto experimental de ensino de leitura? E quantos ficariam satisfeitos de saber que seus filhos estão no grupo de controle, aprendendo pelo método “antigo”? E há também os próprios professores, que podem se sentir tentados a parar com um projeto piloto se acharem que o mesmo não está ajudando os estudantes.
Uma outra resistência vem da percepção errônea de que se trata de uma tentativa de estabelecer o “cientificismo de estado”. O cientificismo pode ser definido como a crença cega na palavra de cientistas, sem análise crítica.
A ideia da política baseada em evidências é que qualquer programa de governo só seja adotado depois que se tornar evidente que ele funciona. Se forem necessários testes, eles são conduzidos de forma controlada em amostras representativas da população. Onde já existem dados sobre o resultado de diferentes políticas, estes serão utilizados para demonstrar qual a linha de trabalho mais efetiva. Não se trata do cientista administrando, mas do cientista aconselhando o administrador.

No Brasil

No Brasil, a formulação de políticas baseadas em evidências vem sendo proposta pela medicina clínica desde os anos 1970, com a MBE, ou “medicina baseada em evidências”.
Um destes programas de saúde é o Hiperdia, que é “um Sistema de Cadastramento e Acompanhamento de Hipertensos e Diabéticos captados no Plano Nacional de Reorganização da Atenção à hipertensão arterial e ao Diabetes Mellitus, em todas as unidades ambulatoriais do Sistema Único de Saúde, gerando informações para os gerentes locais, gestores das secretarias municipais, estaduais e Ministério da Saúde”.
Com o programa, tem-se uma estimativa confiável do número de hipertensos e diabéticos, que serve para dimensionar os serviços de atendimento para estes problemas de saúde e problemas correlatos. Além disso, o cadastro de hipertensos e diabéticos permite o acompanhamento do tratamento e o fornecimento de medicamentos.
Este é o tipo de programa de governo que se pretende com a política baseada em evidências – não só em saúde, área na qual o uso de evidências é maior, mas em outras áreas em que o país tem deficiências.
Alternativas às políticas baseadas em evidências são, por exemplo, as políticas baseadas em algum insight de algum ministro e a importação de políticas adotadas em outros países (que podem ou não ter sucesso na realidade brasileira). Como consequência dessas políticas, um programa público pode ser implantado sem garantia alguma de que funcione.
Ao mesmo tempo, será que vale a pena o investimento em programas de coleta e disponibilização de dados para estudos acadêmicos, ou o custo de programas piloto experimentais para verificar a efetividade de novos programas e abordagens em saúde, educação, segurança, desenvolvimento social, distribuição de renda, fomento do crescimento econômico e outras áreas?
É desejável? É importante? É factível? O que você acha que é melhor para o país? Compartilhe aqui sua opinião. [NewsCientist, DSSBR, en.Wikipedia]

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